Tempo, tempo, tempo, tempo...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

LENDAS DE NORTE A SUL...

Desde criança, sempre fui "xonadinha" por lendas e em tempo colegial, fui cerceada por ela, já que fazia parte do grupo artístico da escola que estava sempre envolvido com o lado folclórico do povo brasileiro. A lenda é uma narrativa de fatos repletos de fantasias, entrelaçados a fatos concretos que, ocorreram em um determinado lugar e que, transmitido de pessoa para pessoa, ao longo dos tempos, vai se modificando, alterando-se, diminuindo, incluindo características próprias da região, do povo, da cultura que a narra... O Vocábulo "lenda", origina-se do baixo latim e significa "o que deve ser lido". O Brasil é muito rico em número de lendas, devido a forte miscigenação aqui existente. Muitas delas, tornaram-se famosas por todo o mundo. A exemplo, cito: . Rei Artur e os cavalheiros da Távola redonda. . Robin Hood. . Rômulo e Remo. . Shangrilá. . Atlântida. Acabei de ler o livro " Viagem pelo Brasil em 52 histórias", de Silvana Salerno, com ilustrações belíssimas de Cárcamo, um chileno que mora no Brasil desde 1976. Que livro "delicioso" de se ler! Senti-me na obrigação de postar as lendas que se seguem, mas quero incentivá-los a lê-lo integralmente, ou, mais ainda: tê-lo na estante, porque é uma dessas relíquias que se pode, como as lendas, ir passando de pai para filho. HISTÓRIA DO NORTE: A ORIGEM DO "OIAPOQUE" Muitos anos atrás, a fome atingiu uma aldeia indígena. Havia pouca caça e quase nenhum peixe, e a seca acabara com a plantação de mandioca. O mesmo tinha acontecido com muitas árvores frutíferas, que não deram frutos. Enfraquecidas, as crianças ficavam doentes, e os bebês e os velhos estavam morrendo. Por causa disso, a índia Tarumã, que estava grávida, decidiu sair de lá para salvar o seu bebê. Ela tinha certeza de que sua criança morreria de fome, pois, fraca como estava, provavelmente não teria leite para amamentá-la. E partiu em busca de um lugar melhor para criar seu filho. Alguns dias se passaram. Sozinha na mata, Tarumã já não tinha esperança. Começou então a chorar, com saudade de tudo o que deixara para trás. Em desespero, pediu a Tupã para transformá-la numa cobra, de modo que pudesse transpor a floresta e encontrar um lugar adequado para seu povo construir outra aldeia. Admirado com a coragem da moça, o deus atendeu seu pedido. Durante meses, aquela grande cobra vagou em busca de um local em que houvesse comida e água. Carregando o bebê, seu peso era tanto que por onde passava ela deixava sulcos profundos no chão. Finalmente, Tarumã encontrou um vale cortado por um riacho, com muitas árvores frutíferas e caça nas redondezas. A índia-cobra ficou super feliz! Fez todo o trajeto de volta para avisar seu povo que havia encontrado água e comida: agora, todos estavam salvos. Mas ela estava tão empolgada que se esqueceu de pedir a Tupã para desfazer o encantamento. Quando estava chegando à aldeia, o bebê nasceu. Tarumã teve sua filhinha bem na entrada do povoado. Quando as pessoas viram que uma criança tinha nascido de uma cobra, acharam que fosse algum tipo de bruxaria e mataram o bebê. Tarumã ficou louca de dor, mas não atacou sua gente. Expressou sua tristeza com um choro tão prolongado que as lágrimas preencheram os sulcos que seu corpo havia cavado na mata, transformando-os num grande rio. Com a perda do bebê, Tarumã não quis mais ser gente. Para esconder-se do mundo, mergulhou no rio de suas lágrimas e adormeceu no seu leito. Na aldeia, os índios contam que as águas do rio ficam revoltas nas noites de lua cheia, e quando Tarumã suspira pela falta da filha. Quando ela chora, o volume de água aumenta tanto que o rio transborda e forma-se um grande alagado até as ilhas próximas. Foi assim que esse rio ganhou o nome de Oiapoque. ( Inspirada em "A lenda do rio Oiapoque" ) Tarumã: árvore de frutos comestíveis que se encontra em todo o Brasil. Em tupi-guarani: "fruta que dá em cachos." Oiapoque: na língua dos oiampis, habitantes do centro-oeste do Amapá, significa "casa de oiampi". Rio Oiapoque: faz fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa e percorre todo o norte do Amapá. HISTÓRIA DO NORDESTE: A MOURA TORTA Três príncipes decidiram conhecer o mundo. Depois de algumas horas na estrada, pararam para descansar. Então apareceu uma velhinha, que disse: "Ouvi as preces de sua mãe e resolvi ajudá-los. Trouxe estas melancias para tornar o caminho de vocês mais leve. Faço apenas uma recomendação: só abram as frutas onde houver água por perto". Os moços agradeceram, e ela desapareceu, da mesma forma como havia aparecido. Os irmãos retomaram o caminho, cada um por uma estrada diferente. O mais velho estava curioso e logo abriu a melancia. Assim que partiu a casca, uma bela moça surgiu e foi logo dizendo: "Tenho sede!" Mas não havia água corrente, e a moça caiu no chão e morreu. Em outra estrada, seguia o irmão do meio. Estava decidido a cumprir a orientação da velhinha, mas a a curiosidade não deixou. Abriu a melancia, e uma moça bonita apareceu, pedindo água. Ele correu pelos arredores, mas não encontrou nada. Quando voltou, a moça estava morta. Vítor, o caçula, só abriu a fruta quando surgiu um regato no caminho. Uma moça linda e nua pulou da melancia, dizendo: "Preciso beber água!" Vítor correu até o córrego, encheu uma cabaça e trouxe para a moça. Enquanto observava Milena matar a sede, ele se apaixonou por ela. "Sou príncipe Vítor, e quero me casar com você", disse ele. A moça ficou radiante: ela estava encantada pelo rapaz. "Vou buscar umas roupas para você vestir e depois vou levá-la comigo ao palácio", disse ele, pedindo que ela esperasse no alto da árvore que havia junto ao riacho. Dali a pouco, apareceu uma velha feia, de pernas tortas, conhecida como a Moura Torta. Trabalhava numa casa da cidade e vinha buscar água. Quando chegou às margens do regato, viu a imagem de uma mulher bonita refletida na água e pensou que fosse ela mesma, pois nunca se vira no espelho. "Que desaforo! Uma moça linda assim ter de carregar água!" Jogou o cântaro com raiva, e ele se quebrou. Quando entrou em casa sem água e sem cântaro, levou uma bronca da patroa, que a mandou de volta ao rio. Ao ver outra vez o rosto da moça refletido na água, a Moura Torta atirou de novo a bilha no chão. Então, a moça caiu na gargalhada. Espantada, a velha levantou a cabeça. Quando descobriu Milena no alto da árvore, percebeu tudo. Puxou conversa com a garota, e depois que ela lhe contou sua história, a velha adotou um tom meigo: "Ah, minha netinha, venha cá para eu catar os seus piolhos..." A moça não se mexeu, mas a velha trepou na árvore, estendeu a mão até os cabelos de Milena e enterrou um alfinete na sua cabeça, transformando a moça numa pombinha. E então a Moura tomou o lugar de Milena, à espera do príncipe. Quando ele chegou, estranhou muito aquela transformação. Havia deixado uma mulher moça, bonita e nua e encontrava uma velha, feia e vestida. Para disfarçar a diferença, ela foi logo dizendo: "Tanto tempo fiquei à sua espera que o sol queimou e enrugou minha pele. Eu, que era tão alva, fiquei morena e ressecada..." Contou uma longa história e concluiu dizendo que confiava no amor dele e na sua promessa. O príncipe estranhou tudo aquilo, mas resolveu cumprir a palavra. De nada adiantaram as súplicas do rei e da rainha: o rapaz casou-se com a velha. Alguns dias depois, ele estava à janela, quando reparou numa pombinha branca, que olhava na sua direção. Sem saber por que, sentiu-se atraído por ela. No dia seguinte, lá estava a pomba de novo, e assim foi por vários dias, até que a Moura Torta percebeu. "Por que fica tanto tempo na janela, meu marido?" "Olho para uma pombinha branca que fica olhando para cá", disse ele. "É essa pomba que eu tenho vontade de comer!", respondeu a velha. "Não diga uma coisa dessa! Ela é tão bonita, e não faz mal a ninguém, por que matá-la?" A velha começou a chorar, dizendo que morreria se não comesse aquela pomba, e tanto resmungou que Vítor acabou dizendo: "Está bem. Vou preparar um laço para a apanhar a pombinha". No dia seguinte, ele pôs um laço de corda na árvore e ficou observando. A pomba pousou ao lado do laço e voou para o galho mais alto. Olhando para o príncipe, disse: "Se quiser me pegar, faça um laço de ouro", e levantou voo. O príncipe ficou assombrado: a pombinha falava! Agora era ele que queria prendê-la. Colocou o laço de ouro na árvore e ficou esperando. Muitos dias se passaram até a pomba colocar o pé no laço. "O que você quer de mim, pombinha, para se deixar prender dessa forma?", perguntou o príncipe, com a ave nas mãos. Ela arrulhou em resposta. Vítor acariciava a cabecinha da pomba, quando sentiu uma coisa pontuda e descobriu a cabeça de um alfinete. "Isso deve machucar muito", disse, retirando com todo o cuidado o alfinete. No mesmo instante, Milena surgiu à frente dele. A moça contou ao príncipe o que havia acontecido. A Moura Torta tentou fugir, mas foi presa. O rei e a rainha prepararam uma grande festa para o casamento do príncipe com Milena, com fogos de artifício, espetáculos de teatro e circo e muita música. ( Inspirada em "A Moura Torta", coletada por Sílvio Romero em Contos populares do Brasil e por Câmara Cascudo em Contos tradicionais do Brasil ) Origem da história: ouvida em todo o Brasil, mas a primeira vez foi contada por uma pessoa que vivia no Piauí, uma região de clima semi-árido e vegetação de caatinga, formada de cactos, como o mandacaru, que serve de comida para o gado. HISTÓRIAS DO SUDESTE: O AMIGO-DA-ONÇA Uma onça caiu numa armadilha e ficou presa. Quando viu um moço passar por perto, pediu ajuda. "Se eu tirar você daí, você vai me comer", disse ele. "Pode ficar tranquilo, moço. Prometo que não vou tocar em você." Rafael então concordou. Desatou os nós das cordas que prendiam a tampa do alçapão e soltou a onça. Ela pulou para fora e avançou para cima do rapaz: "Estou morrendo de fome! Agora já tenho almoço", disse. Rafael não gostou da traição e tanto falou para a onça que ela lhe fez uma proposta: "Vamos pedir a opinião de três animais. Se a maioria estiver a meu favor, você vai ser minha comida". Eles saíram então pela floresta, e encontraram um cavalo velho e doente. A onça contou-lhe o caso e o cavalo disse: "Quando eu era jovem e forte, trabalhei muito para ajudar as pessoas a ganhar dinheiro; agora que estou velho, fui abandonado para morrer sozinho. Minha conclusão é que o bem só se paga com o mal". Rafael e a onça continuaram. Mas à frente, encontraram um boi. Também ele tinha dedicado a vida a um sitiante; quandou pensou que seria recompensado, foi vendido para o açougueiro. O boi ficou do lado da onça, repetindo o mesmo provérbio do cavalo: o bem só se paga com o mal. Já sem esperança, o rapaz acompanhava a onça, quando viram um macaco. Depois de ouvir a história, o macaco desandou a rir; pulava, virava de ponta-cabeça e fazia careta. A onça não gostou nada daquilo. "O que há de tão engraçado, companheiro macaco?", perguntou, muito brava. "Não quero desmerecer ninguém, mas não acredito que o homem tenha caído na armadilha que armou", disse o macaco. "Não foi ele que caiu, fui eu", corrigiu a onça. "Você?! Não acredito! Como é que um rapaz pequeno e fraco pôde libertar um bicho grande e forte como a amiga onça?" Ofendida com a desconfiança do macaco, a onça pulou dentro do fosso. Lá de baixo, gritou: "Está vendo, companheiro macaco? Era assim que eu estava presa!" Sem perder tempo, o macaco empurrou a tampa para cima do fosso. "Companheira onça", disse ele, "para mim, o bem só se paga com o bem. Como você fez mal, está recebendo o mal." Pulou no ombro de Rafael e foi embora com ele. ( Inspirada em "O bem se paga com o bem" coletada por Câmara Cascudo em Contos tradicionais do Brasil ) Esta fábula indiana foi divulgada no Ocidente no século VI. Como toda boa história, atravessou fronteiras e oceanos. Nas primeiras versões, era um tigre que caía na armadilha. O Animal foi variando, de acordo como país: em Angola, é um leopardo; no Brasil, é a nossa onça. HISTÓRIA DO SUL: O NEGRINHO DO PASTOREIO No tempo da escravidão, lá pelo início do século XIX, vivia no Rio Grande do Sul um estancieiro de coração muito duro. Suas terras cobriam uma grande extensão de prados, o pampa gaúcho. Com muito gado, vaqueiros a seu serviço e uma grande casa, não dava pousada a ninguém, nem emprestava montaria ao viajante cansado. O estancieiro não tinha amigos. Assim como não gostava de ninguém, também não era querido. Dentre aqueles com quem convivia, só a três olhava nos olhos: um cavalo baio, seu filho e um pequeno escravo. O baio era seu cavalo de confiança; o filho era seu sangue; e o menino escravo, negro bonito, nem nome tinha, era conhecido como Negrinho. Como não tinha nome nem fora batizado, o Negrinho se considerava afilhado de Nossa Senhora. E era maltratado pelo filho do patrão. Depois de muita insistência do vizinho, o estancieiro concordou em participar de uma corrida de cavalos. O vizinho queria que o prêmio fosse para os pobres; o estancieiro não concordou; queria que o vencedor levasse o prêmio. E assim ficou decidido; a corrida seria de trinta quadras, e a aposta, de mil onças de ouro. No dia marcado, reuniu-se toda a gente da região. Os cavalos eram tao perfeitos que os gaúchos não sabiam por qual se decidir. O baio tinha fama de veloz, era ótimo corredor. O mouro do vizinho era duro na queda, não se cansava nunca. As apostas foram abertas, e eram muitas, e muitas altas. O estancieiro decidiu que o Negrinho, que pastoreava os cavalos, montaria o baio. Quando a corrida começou, ele se benzeu: "Valha-me, minha Nossa Senhora! Se o baio perder, o meu senhor me mata!" Durante toda a corrida, o baio seguiu emparelhado com o mouro. Na última volta, a poucos metros da chegada, o baio parou de repente, empinou e fez meia-volta, dando ao mouro tempo para ultrapassá-lo e cruzar a linha de chegada. O estancieiro achou que tinham preparado uma armadilha, mas o juiz sentenciou:"Foi dentro da lei! Quem perdeu deve pagar. Eu perdi cem onças elas estão aqui", disse ele, tirando o dinheiro do bolso. Não havia o que discutir. Furioso, o estancieiro pagou as mil onças conforme o combinado. O ganhador recolheu o dinheiro e deu tudo aos pobres. O perdedor não tinha engolido aquilo. Assim que chegou à estância, mandou amarrar o Negrinho e dar-lhe uma surra de chicote. De madrugada, levou o garoto para o alto de uma colina e então disse a ele: "A pista da corrida que voê perdeu tinha trinta quadras, pois trinta dias você ficará aqui pastoreando os meus trinta cavalos negros. O baio vai ficar amarrado, e a corda dele, presa à sua mão". O Negrinho começou a chorar. O dia amanheceu, e o Negrinho ali, no pastoreio, sem ocmer nem beber. Chegou a noite, e ele se deitou, todo encolhido. As corujas o cercaram, piando, e ele começou a tremer. Pensou na sua madrinha, Nossa Senhora - a madrinha dos que não tem madrinha -, e só então conseguiu dormir. No meio da madrugada, um bando de raposas assustou o baio, que se soltou e saiu a galope, acompanhado dos outros cavalos. De manhã, o filho do patrão viu o Negrinho só e contou ao pai que os cavalos não estavam mais lá. O estancieiro mandou buscar o menino e dar outra surra nele. Quando a noite caiu, mandou que ele fosse procurar os cavalos perdidos. Chorando, o Negrinho rezou a Nossa Senhora, pegou uma vela e saiu pelo campo escuro. Á medida que andava, a vela ia pingando no chão; a cada pingo nascia uma nova luz, e foram tantas que iluminaram todo o campo. O Negrinho encontrou os cavalos deitados. estavam mansos, até mesmo os chucros. Montou no baio e trouxe a tropilha para o alto da colina, onde estava cumprindo o castido determinado pelo fazendeiro. E finalmente riu, contente da vida. E só quando ele se deitou no capim as luzes se apagaram. Quando clareou, apareceu o filho do fazendeiro para enxotar os cavalos, que dispararam campo afora.O menino malvado foi dizer ao pai que os cavalos não estavam lá. Mais uma vez o Negrinho perdeu o seu pastoreio. O estancieiro mandou dar-lhe uma surra de chicote que só terminou quando o menino não chorava mais, tinha a pele toda cortada e estava coberto de sangue. O Negrinho chamou por Nossa Senhora, deu um suspiro fundo e pareceu que tinha morrido. O patrão mandou jogar seu corpo num imenso formigueiro que havia na fazenda, atiçou bem as formigas, e só saiu de lá quando elas tinham coberto o corpo do menino. Uma cerração muito forte se abateu sobre o lugar nos três dias seguintes. No quarto dia, os peões saíram em busca dos cavalos, mas não encontraram nem rastro deles. Então o senhor resolveu ir ao formigueiro ver o que sobrara do escravo. Ao chegar, não pode acreditar no que via: o Negrinho estava em pé, com a ele intacta, espantando as formigas, que o incomodavam. Ao lado dele, o baio e os trinta cavalos. Quando o fazendeiro viu aquilo, caiu de joelhos diante do escravo. E o Negrinho, sorridente, montou em pelo no baio e tocou a tropilha a galope. Nas semanas seguintes, tropeiros e viajantes chegavam com a mesma notícia: todos tinham visto passar, à mesma hora, uma pequena tropa de cavalos conduzido por um Negrinho que montava em pelo um cavalo baio. A partir de então, muitos começaram a acender velas e a rezar pela alma do menino. E, quando alguém perdia alguma coisa no campo, pedia ao Negrinho, que campeava a noite toda e a encontrava. Mas ele só a entregava se a pessoa acendesse uma vela para a sua madrinha. Daquela época até hoje, feliz e risonho, o Negrinho pastoreia os seus cavalos. Quem perder alguma coisa, tanto no campo como na cidade, não deve perder a esperança. É só acender uma vela e pedir ao Negrinho do Pastoreio que o ajude a encontrar. Se ele não achar, ninguém mais acha. ( Inspirada na tradição oral ) Lenda gaúcha mais popular, contada em todo o Brasil.Onça: moeda de ouro que equivalia mais ou menos a 3 centavos. Baio: cavalo de cor castanha ou amarelada. Chucro: cavalo bravo, que ainda não foi domado. HISTÓRIA DO CENTRO-OESTE: < O SOL E A LUA Inimá saiu para caçar e pegar imbira para fazer uma rede. Estava concentrado tirando as imbiras do cipó quando a onça apareceu, acompanhada de uma turma grande, que vinha atrás dela. O grupo começou a fazer um cerco em volta do índio, que ficou com medo de virar comida de onça e disse: "Onça, vamos fazer um trato? Em vez de você me comer, eu lhe dou minhas dus filhas; elas são muito bonitas." "Está bem", disse a onça. "Mas fuja rápido, antes que o pessoal pegue você." Quando o grupo chegou, perguntou pelo índio, "Ele fugiu", disse a onça. "E você deixou?", perguntaram. "Eu não percebi", disse a onça com a maior cara-de-pau. A turma achou aquilo muito estranho, mas não disse nada. Enquanto isso, Inimá chegou à sua casa e se pôs a pensar no que teria de fazer para cumprir sua promessa. Ele não queria dar as filhas à onça, e ficou matutando, matutando, até que teve uma ideia. Foi para o mato procurar Uégovi, o chefe dos paus, que lhe indicou duas árvores, uma de pau-amarelo, outra de pau-de-leite. O índio tirou dois pedaços de cada tronco e esculpiu dois bonecos com cara e corpo de gente. Levou os bonecos para casa, escondeu-os bem e foi dormir. No meio da noite, os bonecos de madeira viraram gente. Quando o índio acordou, duas moças estavam no lugar dos bonecos. "Como vão, minhas filhas? Sou seu pai. Fui eu que fiz vocês", disse ele. "Vamos bem, pai." O índio passou o dia todo com as filhas, mas quando chegou a noite, a coruja apareceu e disse que a onça estava esperando. Ele contou às moças o que tinha acontecido, e elas ficaram tristes porque não queriam se casar com a onça. Mas a coruja disse que se elas não fossem seria pior. Então, as moças foram para a floresta. Depois de muito andar, deram numa encruzilhada e pediram informação ao veado; ele explicou que um caminho levava à casa da onça, e o outro, à do lobo. As irmãs se dividiram. A primeira encontrou o lobo, que logo foi agarrando a moça. A segunda foi dar na casa da onça e contou o que tinha acontecido. A onça foi buscar a irmã da moça, que estava na porta da casa porque o lobo tinha saído. As irmãs se reencontraram e passaram a viver com a onça e a mãe dela. Então, uma das moças ficou grávida e teve os gêmeos Rit, que era o Sol, e Une, a Lua. Quando Rit e Une cresceram, dividiram o povo em grupos e deram nomes a eles: Juruna, Cuicuro, Camaiurá, Calapalo, Tsuva, Iaualápiti, Txucarramãe, Aviotó, Suiá, Aipatsi, Iarumá, Aueti, Trumai etc. Então, Rit disse que eles não deviam ficar juntos. Cada grupo tinha de tomar um rumo diferente, e quando se encontrassem teriam de lutar. Depois disso, Rit e Une foram para o Morená. ( Inspirada em "A origem dos gêmeos Sol e Lua", coletada por Orlando e Cláudi Villas Boas em Xingu: Os índios, seus mitos ) Imbira: casca do cipó, que os índios usam para fazer rede e corda. Morena: a palavra vem de "mouro" ou "mauro", povo arabizado proveniente da Mauritânia ( África ), que invadiu a península Ibérica no ano de 711 e lá permaneceu até 1492.

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