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PEIXES NA FLORESTA
( Conto de origem russa )
Era uma vez um lavrador que vivia com a mulher em seu sítio.
Acontece que a mulher do lavrador era incapaz de guardar segredo! Isso mesmo, ela não guardava segredo de jeito nenhum.
Tudo o que lhe contavam, a cidade inteira ficava sabendo em menos de um dia. A mulher do lavrador ia ao mercado, fazia visitas e entregava ovos para todo o mundo, e em uma semana a novidade se espalhava pelo país inteiro.
Nada caminha mais depressa do que uma fofoca.
Pois bem, um dia o lavrador estava cavoucando a plantação de nabos quando de repente a lâmina da pá bateu na tampa de ferro de uma velha arca enferrujada.
Ao levantar a tampa, seus olhos se ofuscaram diante de um monte de ouro amarelo e brilhante.
- Ora, ora – ele pensou -, preciso ter cuidado. Minha mulher não consegue guardar segredo. Se ela vir todo esse ouro, até o fim do dia a cidade inteira vai ficar sabendo e, daqui a uma semana, essa história vai parar nos ouvidos do rei. Sendo rei, e além do mais muito ambicioso, certamente ele vai querer ficar com todo o ouro.
O lavrador sentou no meio do canteiro e ficou pensando, pensando.
No fim, achou que a única coisa a fazer era esperar a mulher pegar no sono, levar o ouro para casa no meio da noite e enterrá-lo no chão da cozinha.
Foi isso que ele fez. Quando ouviu a mulher roncar profundamente adormecida, o lavrador, sob a luz do luar, foi até o campo e pegou o ouro.
Levou-o para casa com muito cuidado e começou a cavar um buraco no chão da cozinha.
Estava cavoucando quando, CRAC!, a pá bateu numa pedra. A mulher acordou, acendeu uma vela e desceu as escadas, correndo:
- O que está acontecendo aqui?
E então ela viu o tesouro brilhante.
- Oh, marido, onde você achou esse ouro?
- Psss! Ouça uma coisa, esse ouro é segredo. Achei-o na plantação de nabos. Não conte para ninguém, nenhuma viva alma pode saber, está entendendo?
- Ora, marido, você me conhece. Não vou dizer uma palavra a ninguém, prometo!
Mas por acaso ela conseguia guardar segredo?
Eu sei, você sabe e o lavrador também sabia muito bem que ela não conseguia guardar segredo. A noite toda o marido ficou pensando:
- Ora, ora, o que vou fazer agora? Daqui a um dia a cidade toda vai estar sabendo, daqui a uma semana o rei vai estar sabendo.
Ele pensou, pensou e teve uma ideia.
- Claro – ele disse -, é isso que eu vou fazer!
Logo cedo, assim que amanheceu, ele pulou da cama e foi até a cidade.
Foi à peixaria e comprou umas trutas prateadas e pintadinhas.
Foi à padaria e comprou uns bolinhos com passas.
Foi ao açougue e comprou uma fieira de linguiças.
Depois o lavrador foi à floresta, não muito longe de suas terras.
Espalhou os peixes pelo capim úmido, pendurou os bolinhos nos galhos das árvores, pegou uma vara de pescar, enganchou o anzol nas lingüiças e jogou-as no rio.
Então, esfregando as mãos e rindo consigo mesmo, voltou para casa.
- Mulher, mulher, acorde! Está um dia perfeito para pescar na floresta!
A mulher sentou na cama, esfregando os olhos:
- O quê? Pescar? Na floresta?
- Isso mesmo! Venha comigo, depressa. Não é sempre que isso acontece. Há peixes nadando no capim e me disseram que vai chover bolinhos de passas!
Então, ela pulou da cama, vestiu-se muito depressa, pegou uma cesta e os dois saíram correndo pelo campo rumo à floresta.
Assim que chegaram, ela gritou:
- Veja só! É verdade! Olhe só as trutas nadando pelo capim.
Ela pegou as trutas e as jogou na cesta.
- São bonitas e gordas!
Depois ela viu os bolinhos pendurados nas árvores.
- Marido, você tinha razão! Bolinhos!
O marido confirmou:
- Pois é, choveram bolinhos, mesmo! Se você tivesse pulado antes da cama, com certeza também teríamos encontrado bolos pelo chão. Alguém deve ter chegado antes e levado tudo.
Não foi preciso andar muito para chegarem ao rio. O lavrador disse:
- Vou puxar minha vara de pesca para ver o que consegui pegar.
Ele recolheu a linha e ali estava, balançando enganchada no anzol, uma fieira de linguiças.
A mulher do lavrador quase perdeu o fôlego:
- Linguiças! No rio!
- Pois é – disse o lavrador -, sempre há linguiças nadando no rio. Mas não é todo o mundo que sabe pegá-las.
Eles voltaram para o sítio e comeram um café da manhã maravilhoso, com trutas, bolinhos de passas e linguiças.
Mas quem disse que a mulher do fazendeiro se esqueceu do ouro? Que nada!
No fim daquele dia, a história do tesouro escondido já tinha corrido a cidade de ponta a ponta. A mulher do lavrador ia ao mercado e entregava ovos para todo o mundo, e no fim de uma semana o país inteiro estava sabendo da história.
Afinal, nada caminha mais depressa do que uma fofoca.
E é claro que o rei, muito ambicioso, quis ficar com todo o ouro.
- Tragam-me aquele lavrador e a mulher dele! – ordenou o rei.
Assim, os dois foram levados ao palácio do rei.
É verdade que vocês encontraram um tesouro enorme? – perguntou o rei.
- Não, não é verdade – disse o lavrador.
- Mas ouviram sua mulher contar a história para todo o mundo e o reino inteiro está falando nisso.
O lavrador riu.
- Ora, Majestade, minha mulher é completamente louca. Suas histórias não tem pé nem cabeça.
A mulher do lavrador bateu o pé.
- Louca coisa nenhuma – ela disse. – Eu vi com meus próprios olhos, Majestade. Ele estava enterrando o ouro no chão da cozinha.
O rei olhou para a mulher com seus olhinhos ambiciosos.
- Quando foi que você viu isso?
A mulher do lavrador pensou um pouco e respondeu:
- Ora, Majestade, foi uma noite antes de acharmos os peixes nadando na floresta. Choveu bolinhos de passas e nós enchemos uma cesta... e depois meu marido pescou uma fieira de linguiças no rio...
O rei balançou a cabeça:
- Coitada, completamente louca, aluada, doidinha! Linguiças no rio, peixes na floresta, ouro enterrado no chão, chuva de bolinhos! Leve-a para casa, lavrador. Nunca mais quero ouvir as histórias dela.
E os dois foram para casa.
Assim, o lavrador ficou com todo o ouro brilhante e amarelhinho só para ele.
Quanto à mulher, quando ela começava a contar segredos ou espalhar fofocas, as pessoas balançavam a cabeça e sorriam:
- Coitada, ela é louca!
- Aluada!
- Doidinha!
E assim a mulher do lavrador passou a guardar os segredos só para ela.
2 comentários:
Ah gostei mesmo! Parabens. Me diverti!
Lindo demais, parabens.
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