Tempo, tempo, tempo, tempo...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

UM CONTO ESPECIAL AOS FOFOQUEIROS...

(ovoodotempo.wordpress)
PEIXES NA FLORESTA ( Conto de origem russa )
Era uma vez um lavrador que vivia com a mulher em seu sítio. Acontece que a mulher do lavrador era incapaz de guardar segredo! Isso mesmo, ela não guardava segredo de jeito nenhum. Tudo o que lhe contavam, a cidade inteira ficava sabendo em menos de um dia. A mulher do lavrador ia ao mercado, fazia visitas e entregava ovos para todo o mundo, e em uma semana a novidade se espalhava pelo país inteiro. Nada caminha mais depressa do que uma fofoca. Pois bem, um dia o lavrador estava cavoucando a plantação de nabos quando de repente a lâmina da pá bateu na tampa de ferro de uma velha arca enferrujada. Ao levantar a tampa, seus olhos se ofuscaram diante de um monte de ouro amarelo e brilhante. - Ora, ora – ele pensou -, preciso ter cuidado. Minha mulher não consegue guardar segredo. Se ela vir todo esse ouro, até o fim do dia a cidade inteira vai ficar sabendo e, daqui a uma semana, essa história vai parar nos ouvidos do rei. Sendo rei, e além do mais muito ambicioso, certamente ele vai querer ficar com todo o ouro. O lavrador sentou no meio do canteiro e ficou pensando, pensando. No fim, achou que a única coisa a fazer era esperar a mulher pegar no sono, levar o ouro para casa no meio da noite e enterrá-lo no chão da cozinha. Foi isso que ele fez. Quando ouviu a mulher roncar profundamente adormecida, o lavrador, sob a luz do luar, foi até o campo e pegou o ouro. Levou-o para casa com muito cuidado e começou a cavar um buraco no chão da cozinha. Estava cavoucando quando, CRAC!, a pá bateu numa pedra. A mulher acordou, acendeu uma vela e desceu as escadas, correndo: - O que está acontecendo aqui? E então ela viu o tesouro brilhante. - Oh, marido, onde você achou esse ouro? - Psss! Ouça uma coisa, esse ouro é segredo. Achei-o na plantação de nabos. Não conte para ninguém, nenhuma viva alma pode saber, está entendendo? - Ora, marido, você me conhece. Não vou dizer uma palavra a ninguém, prometo! Mas por acaso ela conseguia guardar segredo? Eu sei, você sabe e o lavrador também sabia muito bem que ela não conseguia guardar segredo. A noite toda o marido ficou pensando: - Ora, ora, o que vou fazer agora? Daqui a um dia a cidade toda vai estar sabendo, daqui a uma semana o rei vai estar sabendo. Ele pensou, pensou e teve uma ideia. - Claro – ele disse -, é isso que eu vou fazer! Logo cedo, assim que amanheceu, ele pulou da cama e foi até a cidade. Foi à peixaria e comprou umas trutas prateadas e pintadinhas. Foi à padaria e comprou uns bolinhos com passas. Foi ao açougue e comprou uma fieira de linguiças. Depois o lavrador foi à floresta, não muito longe de suas terras. Espalhou os peixes pelo capim úmido, pendurou os bolinhos nos galhos das árvores, pegou uma vara de pescar, enganchou o anzol nas lingüiças e jogou-as no rio. Então, esfregando as mãos e rindo consigo mesmo, voltou para casa. - Mulher, mulher, acorde! Está um dia perfeito para pescar na floresta! A mulher sentou na cama, esfregando os olhos: - O quê? Pescar? Na floresta? - Isso mesmo! Venha comigo, depressa. Não é sempre que isso acontece. Há peixes nadando no capim e me disseram que vai chover bolinhos de passas! Então, ela pulou da cama, vestiu-se muito depressa, pegou uma cesta e os dois saíram correndo pelo campo rumo à floresta. Assim que chegaram, ela gritou: - Veja só! É verdade! Olhe só as trutas nadando pelo capim. Ela pegou as trutas e as jogou na cesta. - São bonitas e gordas! Depois ela viu os bolinhos pendurados nas árvores. - Marido, você tinha razão! Bolinhos! O marido confirmou: - Pois é, choveram bolinhos, mesmo! Se você tivesse pulado antes da cama, com certeza também teríamos encontrado bolos pelo chão. Alguém deve ter chegado antes e levado tudo. Não foi preciso andar muito para chegarem ao rio. O lavrador disse: - Vou puxar minha vara de pesca para ver o que consegui pegar. Ele recolheu a linha e ali estava, balançando enganchada no anzol, uma fieira de linguiças. A mulher do lavrador quase perdeu o fôlego: - Linguiças! No rio! - Pois é – disse o lavrador -, sempre há linguiças nadando no rio. Mas não é todo o mundo que sabe pegá-las. Eles voltaram para o sítio e comeram um café da manhã maravilhoso, com trutas, bolinhos de passas e linguiças. Mas quem disse que a mulher do fazendeiro se esqueceu do ouro? Que nada! No fim daquele dia, a história do tesouro escondido já tinha corrido a cidade de ponta a ponta. A mulher do lavrador ia ao mercado e entregava ovos para todo o mundo, e no fim de uma semana o país inteiro estava sabendo da história. Afinal, nada caminha mais depressa do que uma fofoca. E é claro que o rei, muito ambicioso, quis ficar com todo o ouro. - Tragam-me aquele lavrador e a mulher dele! – ordenou o rei. Assim, os dois foram levados ao palácio do rei. É verdade que vocês encontraram um tesouro enorme? – perguntou o rei. - Não, não é verdade – disse o lavrador. - Mas ouviram sua mulher contar a história para todo o mundo e o reino inteiro está falando nisso. O lavrador riu. - Ora, Majestade, minha mulher é completamente louca. Suas histórias não tem pé nem cabeça. A mulher do lavrador bateu o pé. - Louca coisa nenhuma – ela disse. – Eu vi com meus próprios olhos, Majestade. Ele estava enterrando o ouro no chão da cozinha. O rei olhou para a mulher com seus olhinhos ambiciosos. - Quando foi que você viu isso? A mulher do lavrador pensou um pouco e respondeu: - Ora, Majestade, foi uma noite antes de acharmos os peixes nadando na floresta. Choveu bolinhos de passas e nós enchemos uma cesta... e depois meu marido pescou uma fieira de linguiças no rio... O rei balançou a cabeça: - Coitada, completamente louca, aluada, doidinha! Linguiças no rio, peixes na floresta, ouro enterrado no chão, chuva de bolinhos! Leve-a para casa, lavrador. Nunca mais quero ouvir as histórias dela. E os dois foram para casa. Assim, o lavrador ficou com todo o ouro brilhante e amarelhinho só para ele. Quanto à mulher, quando ela começava a contar segredos ou espalhar fofocas, as pessoas balançavam a cabeça e sorriam: - Coitada, ela é louca! - Aluada! - Doidinha! E assim a mulher do lavrador passou a guardar os segredos só para ela.

2 comentários:

Fernanda Rocha Mesquita disse...

Ah gostei mesmo! Parabens. Me diverti!

ebanobrasileiro disse...

Lindo demais, parabens.