Tempo, tempo, tempo, tempo...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A MAGIA DE CONTAR HISTÓRIAS...

Há tempo melhor?

Tal mãe, tal filho... hehehe
Sempre gostei de "contar histórias" dramatizando. Eu mesma acho mágico modificar a voz, o ritmo, a entonação e observar o olhar de espanto dos pequeninos... Há um grupo de crianças que acompanham as mães ( que estudam à noite ), somente para poder ouvir uma história contada por mim na biblioteca. Se estou ocupada, sempre digo: vocês sabem lerrrrrrr! E elas argumentam: - Mas não é a mesma coisa! Você conta diferente! Daí, não dá pra ver os olhinhos pidões e termino por ler uma e mais umas, já que elas sempre me convencem a ler "só mais uma" e por aí vai. Essa eu tenho que deixar aqui registrada, porque ela realmente encanta a todos! O Rick e o Vítor, meus filhos, até já aprenderam a cantar ( a melodia que inventei ) as falas do macaco e na roça, o Vítor deu um show contando-a para todos, à beira da fogueira. Compartilho-a com vocês...
Fogueirinha boaaaaa...

MACACO E PAPAI DEUS Um conto do Haiti Há muito tempo, no meio de uma floresta, morava uma velha que criava abelhas. Criava colmeias e colmeias, e no fim do verão coletava mel: eram conchas, jarras, tigelas e barris transbordando de mel doce e dourado. O que a velha fazia com tudo aquilo? Bem, ela ficava com a maior parte, dava um pouco para os outros e o resto ela despejava num pote imenso. Erguia aquele pote imenso, ajeitava-o na cabeça e atravessava a floresta, rumo à feira, para vender seu mel. Um dia, ela ia caminhando, caminhando pela floresta, equilibrando na cabeça o pote abarrotado de mel. Mas, enquanto ia andando, uma coisa terrível aconteceu. Ela bateu com o pé na raiz de uma árvore, tropeçou, caiu e... Ploft! O pote se espatifou e o mel se derramou, escorrendo por todo lado. A mulher começou a chorar: - Ai, que desgraça, Papai Deus? Por que você me manda tanta desgraça? E ela começou a caminhar de volta para casa, chorando e agitando as mãos. - Que desgraça, que desgraça, Papai Deus, quanta desgraça você me manda! Mas ali, sentado em meio aos galhos de uma árvore, espiando tudo, estava um macaquinho. Assim que a velha se foi, ele desceu até o chão e enfiou o dedo naquela coisa viscosa. Nunca tinha visto aquilo antes. Então, levou o dedo à boca. - Mmmm, que desgraça gostosa! Eu nunca tinha experimentado - e ele levou à boca mais uma mão cheia daquilo. - Mmmmm, desgraça é doce como açúcar! O macaco comeu, comeu, cuspindo fora os pedacinhos de pau e casca de árvore e lambendo os cacos do pote quebrado. - Mmmmm, desgraça é uma delícia! E depois, de acabar com o último pingo dourado, ele só conseguia pensar numa coisa: - Quero mais desgraça. O macaco se lembrou do que a velha tinha dito: “Papai Deus, por que você me manda tanta desgraça?” Coçou a cabeça. Então ela dali que vinha a desgraça! - Se eu fizer uma visita ao Papai Deus, talvez ele me dê um pouco mais de desgraça – ele pensou. Quanto mais pensava, mais gostava da ideia. Então ele foi subindo nas árvores, subindo, subindo, até chegar à casa do Papai Deus. E lá estava o próprio Papai Deus, sentado ao sol,vigiando o mundo. - Oi, Papai Deus! Papai Deus sorriu. - Olá, macaquinho, o que você quer? - Quero desgraça, Papai Deus. Papai Deus ficou intrigado. - Quer desgraça, macaquinho? - Desgraça é uma delícia, é doce. Quero toda a desgraça que puder me dar, Papai Deus! Papai Deus se levantou. - Bem, por acaso eu tenho um pouco de desgraça especialmente feita para macacos. Tem certeza de que é isso que você quer? O macaco fez que sim com a cabeça. Então Papai Deus entrou em casa e logo voltou, trazendo um saco de couro. - Macaquinho, este saco está cheio de desgraça. Mas ouça muito bem o que vou lhe dizer. Primeiro leve o saco até o meio de um imenso deserto de areia, onde não cresça nenhuma árvore. Aí desamarre a boca do saco e, dentro dele, você vai encontrar toda a desgraça possível de imaginar. O macaquinho não perdeu tempo. Pegou o saco de couro e desceu de volta ao mundo. Correu, correu, até chegar ao meio dele. Então ele se sentou. Estava com a barriga roncando e a boca cheia de água, só de pensar em toda aquela desgraça. Ele se sentou, lambeu os beiços e desamarrou o cordão que fechava a boca do saco, exatamente como Papai Deus tinha mandado. E lá de dentro saiu uma verdadeira desgraça de macaco... CACHORROS! Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete cachorros imensos, rosnando e salivando! - Aaaaargh! – o macaquinho soltou o saco, fez meia-volta e saiu correndo! - Aaaaargh! – os sete cachorrões saíram correndo atrás dele. - Aaaaargh! – eles estavam chegando perto. -Aaaaaargh! – o macaco sentia o bafo dos cachorros nas costas dele. Então, bem no momento em que ele achou que sua vida tinha chegado ao fim... apareceu uma árvore! Uma árvore imensa surgiu do nada. Uma árvore imensa no meio do deserto, onde não crescia nenhuma árvore. O macaco subiu por seus galhos o mais depressa que pode. E os sete cachorros ficaram rondando, rondando a árvore, latindo, rosnando e salivando. Acontece que cachorro não sobe em árvore! O macaco passou o resto do dia encarapitado no alto da árvore, tremendo de medo. Quando finalmente o sol se pôs e chegou a escuridão, os sete cachorros sumiram pelo deserto, com o rabo entre as pernas. Assim que eles se foram, o macaquinho desceu da árvore e voltou correndo para a floresta. Mas fica uma pergunta: quem colocou aquela árvore enorme no meio do deserto quente e arenoso, onde não há nenhuma outra árvore? Pois eu vou contar: foi Papai Deus. Por quê? Porque Papai Deus sabe que desgraça demais não é bom, nem mesmo para um macaco.

Um comentário:

ebanobrasileiro disse...

Essa é pra guardar no coração e lembrar que por mais que em nossa vida surjam predras pra nos fazer cair no meio do caminho, ser haverá uma mão amiga que vai nos ajudar a se reerguer. Eu estava triste e papai Deus sabendo disso colocou sua hostória em meu caminho, como se estivesse falando: Calma, estou contigo.
Muito obrigado, mais uma vez.
Renatinho.