Tempo, tempo, tempo, tempo...

quarta-feira, 9 de março de 2011

SABEDORIA CHINESA...



O texto abaixo, foi extraído do livro "O imperador amarelo" (adaptação de Heloisa Prieto): uma verdadeira obra de arte que, além de linda, nos leva ao mundo da aventura, do sonho e da magia chinesa, através de antigas fábulas, lendas e ensinamentos chineses.


Os textos são pequenos e de fácil apreensão e nele podemos nos deparar com monges, princesas, dragões e guerreiros, além de aprendermos através da sabedoria taoísta e de nos deleitarmos com os belos traços da ilustradora Janaina Tokitaka.


A autora é doutoranda na USP e praticante de T'ai Chi e Paulo Bloise ( coordenador da pesquisa) é mestre em psiquiatria e ex cronista do Jornal da Tarde.


O exemplar lido por mim, foi impresso pela Editora Moderna.


A LIÇÃO DO MESTRE

Certa vez um fazendeiro foi até uma vila vender suas peras no mercado. Elas eram tão doces que fizeram fila para compra-las. O fazendeiro sentia-se satisfeito com o lucro de sua colheita, quando, repentinamente, um velho monge taoísta, trajando um manto puído, de algodão, colocou-se à sua frente e lhe pediu uma pera de presente. O fazendeiro ficou furioso:
- Por que o senhor não compra a fruta, como todos os outros? Eu não acredito na caridade, eu não ajudo ninguém! Se o senhor quer comer, que trabalhe, como eu!
- Caro amigo, meu trabalho é importante, mas nem sempre produz dinheiro, como o seu. Sua carroça está lotada de peras, que falta lhe faria uma única fruta?
 Nisso, uma multidão já havia se reunido para ouvir a conversa.
- Por que o senhor não dá ao monge aquela pera um pouco machucada que está no cantinho do cesto? - sugeriu um passante.
Mas o fazendeiro, irado, gritou para chamar a polícia:
- Prendam esse vagabundo! – ele decretou.
Porém, o guarda, que aprendera artes marciais com os velhos monges taoístas, aproximou-se, comprou uma pera e a entregou ao sábio, fazendo-lhe uma respeitosa reverência.
- Nós, os monges, que abandonamos os caminhos do mundo para rezar e meditar, sentimos muita dificuldade em compreender a avareza e a falta de generosidade. Vejo ao meu redor várias pessoas sem recursos. Por favor, senhor fazendeiro, permita que eu os alimente com suas peras.
Então, no lugar de comer a pera que o guarda havia lhe dado, o velo monge abriu a fruta e lhe retirou as sementes, plantando-as no solo. Depois, pediu que lhe dessem um pouco de água para regá-las.
Em seguida, sentou-se calmamente e aguardou. Em  menos de um minuto um broto começou a surgir, que rapidamente se transformou no tronco de uma bela pereira, que logo produziu frutas bem mais saborosas do que aquelas que o fazendeiro trouxera para vender.  A multidão aplaudiu feliz aquela bela árvore que nasceu das mãos mágicas do monge e mais felizes ainda ficaram as pessoas quando o sábio colheu as peras e as distribuiu entre todos os que o cercavam.
Assim que percebeu que as pessoas estavam satisfeitas, o monge apanhou uma pá e arrancou a árvore do solo. Depois, colocou a copa da pereira nos ombros e partiu feliz e contente, sem dar a menor explicação.
Foi quando o fazendeiro, que assistira a tudo aquilo espantado, notou que todas as peras haviam sumido de sua carroça. Aliás, a carroça também havia desaparecido. Envergonhado por sua avareza, ele compreendeu que a madeira da carroça fora transformada pelo monge em tronco de árvore e que suas peras haviam saciado a fome de muita gente necessitada. Cabisbaixo, ele voltou caminhando para suas terras, enquanto a história da pera mágica percorria o mercado, provocando muitas gargalhadas.
P’u Sung- ling (1640-1715): Escritor que nasceu na província de Shandong (China).


Um comentário:

Andre Mansim disse...

É uma boa histtória, mas o monge tapeou o vendedor que ficou até sem a caroça... Coitado!
Tem gente que dá duro na vida para conseguir as coisas que nem olha para o próximo, (isso é errado), mas também tirar todo o fruto do seu serviço eu não acho certo!