Tempo, tempo, tempo, tempo...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Além da arte...


Há livros que sobrepõem a arte!

O Homem que Contava Histórias de Rosane Límoli Pamplona e ilustração de Sônia Magalhães, assim o faz: simplesmente lindo e de um caráter fortemente filosófico, a obra reúne 20 ( vinte) contos de diversas tradições ( judaica, indiana, chinesa, persa, japonesa, italiana, brasileira, grega, russa...).

Todas as histórias são recheadas de ensinamentos e reflexões, além de possuir uma belíssima ilustração, realizada através de colagem e com uma significação, que nos fazem imaginar que estas foram feitas por quem escreveu o relato: através da colagem, a ilustradora utiliza estampas, azulejos, papel para origami, pontos russos, desenhos de porcelas chinesas, mesclando o texto à ilustração característica de cada país.

Durante a leitura do livro, passava momentos apreciando as colagens e ao terminar a leitura, fiquei alguns dias folheando-o, degustando o prazer que os desenhos me causaram.

Escolhi um conto italiano para seu deleite. Espero que gostem, mas devo dizer-lhe que ele é apenas uma das lindas histórias ali encontradas...

Uma questão de interpretação
(Recontado por mim)

Havia, em certo reino, um mosteiro habitado por monges jovens e idosos, que passavam o dia em preces...

Um dia, um novo rei subiu ao trono e quis conhecer melhor seus domínios.

Maravilhado com os jardins do mosteiro, cobiçou-o, pensando em transformá-lo em residência de veraneio.

Como não podia expulsar os monges, resolveu conseguir o queria de modo mais sutil.

Tentando comprovar que os monges eram ignorantes e achando que deveriam levar uma vida mais austera para ampliarem os seus conhecimentos, resolveu escolher um deles para debater com o sumo sacerdote da corte: se o sacerdote ganhasse o debate, eles seriam expulsos e se assim não fosse, os monges ganhariam o direito de habitar o monastério para sempre.

Os monges temeram o debate, já que o sacerdote era um homem muito sapiente e nenhum deles, exceto o jardineiro, se candidatou ao debate.

Este jardineiro era um homem simples, mas não havia saída.

O sacerdote prometera a si mesmo que derrotaria o adversário sem nem sequer pronunciar uma palavra e olhando-o com desprezo, apontou o dedo para cima. O jardineiro, sem se perturbar, apontou o dedo para o chão.

O sacerdote pareceu ficar desconcertado e mostrou-lhe então um dedo, diante de seu nariz. O jardineiro então, mostrou-lhe os cinco dedos, com a mão toda aberta.

Titubeante, o sacerdote tirou do bolso uma laranja. O jardineiro, muito tranquilo, tirou do bolso um pãozinho.

Reconhecendo a derrota, o sacerdote pediu ao rei que encerrasse o debate, dizendo que nunca encontrara um adversário tão sábio.

Os monges conservaram o monastério para sempre e o povo se reuniu com o sacerdote, querendo que ele explicasse o que, tinha sido discutido.

O sacerdote disse que quando apontou o dedo para cima, quis declarar que só a sabedoria dos céus é que conta neste mundo. Mas ele, apontando para a terra, rebateu dizendo que, embora não possamos deixar de considerar os céus, somos homens e vivemos na terra. Mostrando-lhe um único dedo, quis mostrar que somos frágeis, porque estamos sozinhos. E ele sabiamente me fez pensar que não, pois estamos cercados por outros homens, nossos irmãos. Finalmente, ao mostrar a laranja, rebati suas ideias, lembrando-o de que a natureza é mais forte do que o homem, pois sabe criar coisas que ele jamais criaria. Foi assim que ele me deu o golpe de misericórdia: ao mostrar-me o pão, lembrou-me de que o homem é capaz de conhecer e modificar a natureza, criando obras que, sozinha, ela não pode fazer.

Todos ficaram estupefatos com a sabedoria revelada pelos monges.

Enquanto isso, no monastério, os monges se reuniam ao redor do jardineiro, que explicava:

- Foi muito simples. Quando ele apontou para cima, mostrando que ia chover, eu mostrei-lhe o chão, dizendo que seria bom, pois a terra necessita de chuva. Depois ele me pareceu aborrecido e me mostrou um calo no seu dedo. Querendo ser gentil, mostrei-lhe minha mão toda, para que ele visse que isso não tem importância: eu tenho calos em todos os dedos! E quando ele tirou a laranja do bolso, pensei que fosse hora do lanche e peguei meu pão.


É por isso que Enkantinho é xonadinha pelas coisas simples da vida!!!


Um comentário:

Andre Mansim disse...

Hahahahahahahaha essa foi muito boa mesmo!