Tempo, tempo, tempo, tempo...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

EU NÃO CAIBO NO POEMA?!

NÃO HÁ VAGAS


 

Ferreira Gullar

O preço do feijão

não cabe no poema. 

O preço

do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão.

O funcionário público

não cabe no poema

com seu salário de fome

sua vida fechada

em arquivos.

Como não cabe no poema

o operário

que esmerilha seu dia de aço

e carvão

nas oficinas escuras


– porque o poema, senhores,

está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema

o homem sem estômago

a mulher de nuvens

a fruta sem preço


O poema, senhores,

não fede

nem cheira.

2 comentários:

Andre Mansim disse...

Japinha que legal esse texto! Puxa vida que idéia legal! Parabens minha amiga!

Lu Almeida Imoto disse...

Olá, Carequinha...

Senti saudades de ocê!
Esse poeminha é lindo msmo!
Abraços, querido...
Abraços pra Andrea e Frida...