Tempo, tempo, tempo, tempo...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cansadíssima, íssima, íssima...



Como o poeta, não me encontro cansada em virtude de tédio: estou apenas cansada, cansadíssima, íssima...

Diferentemente dele, não caio em contradição e sei que estou mesmo cansada, íssima, íssima pelo simples fato de viver os tempos modernos... 
O que há




Álvaro de Campos

Álvaro (pseudônimo de Fernando Pessoa) era um engenheiro português educado na Inglaterra, com influências simbolista e futurista (Modernismo português).
 
 
 imagem: Arlindo-correia
    O que há em mim é sobretudo cansaço —
    Não disto nem daquilo,
    Nem sequer de tudo ou de nada:
    Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
    Cansaço.     A sutileza das sensações inúteis,
    As paixões violentas por coisa nenhuma,
    Os amores intensos por o suposto em alguém, 
    Essas coisas todas —
    Essas e o que falta nelas eternamente —;
    Tudo isso faz um cansaço,
    Este cansaço,
    Cansaço.
    Há sem dúvida quem ame o infinito,
    Há sem dúvida quem deseje o impossível,
    Há sem dúvida quem não queira nada —
    Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
    Porque eu amo infinitamente o finito,
    Porque eu desejo impossivelmente o possível,
    Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
    Ou até se não puder ser...
    E o resultado?
    Para eles a vida vivida ou sonhada, 
    Para eles o sonho sonhado ou vivido,
    Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
    Para mim só um grande, um profundo,
    E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
    Um supremíssimo cansaço, 
    Íssimo, íssimo, íssimo,
    Cansaço...
 
 

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