"... A vida bem poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida, uma simples mulher, que mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava a água fresca da talha, e a água era boa..."
"...Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo do Acre?[...] Ele acendeu o fogo, esquentamos um pouco junto do fogo, depois me deitei numa grande rede branca - foi um carinho ao longo de todos os músculos cansados. Ele me deu um pouco de peixe moqueado e meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe, que calor bom em tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos. (...)
..."Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca. Um momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número... Para que tomar nota? Não precisamos tomar nota de nada, precisamos apenas viver - sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão..."
Ah, caro Rubem! Sua crônica data da década de 40 e muita coisa mudou... Precisamos tomar água gelada porque o homem tem deixado o planeta cada vez mais aquecido; já não usamos lápis nem papel para escrever: a impressora e o teclado são nossos senhores... Os bois, mangueiras e o ribeirão estão ficando cada vez mais distantes do mundo moderno embora, em "meio à desarrumação feroz da vida urbana", o homem jamais deixe de ter "o seu sonho de simplicidade"(é lá onde podemos sentir o cheirinho da felicidade espiritual)...
"Simplicidade...Felicidade...
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio...Por que não há de
ser toda gente também assim?"
(Guilherme de Almeida)
2 comentários:
As coisas mudaram, mas textos como esses continuam maravilhosos!
É como dizem por ai: "A vida é fácil. Nós é quem a complicamos."
Estou seguindo seu blog e espero sua visita.
Bjão!
www.poisonique.com
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