Tempo, tempo, tempo, tempo...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Um poema tecnológico

DO JAPÃO

Gilberto Gil

Do Japão
quero uma câmera de filmar sonhos
pra registrar nas noites de verão
meu corpo astral, leve, feliz, risonho
voando alto como um gavião;
que filme dentro da minha cabeça
todo pensamento raro que eu mereça,
toda ilusão a cores que apareça,
toda beleza de sonhar em vão.

Do Japão
quero também um trem-bala de coco
pra atravessar túneis do dissabor;
quero um microcomputador barroco
que seja louco e desprograme a dor;
visitar um templo zen-disbundista,
conversar com um samurai futurista
que me dê pistas sobre o sol-nascente,
que me oriente sobre o novo amor.

Do Japão
quero uma gueixa que em poucos minutos
da minha queixa faça uma paixão, descubra novos sentimentos brutos
e enfeitiçada tome um avião
e a gente vá viver num outro mundo, pra lá do terceiro ou quarto ou quinto mundo,
onde a rainha seja uma açucena
e a divindade a pena do pavão.
(In "Um outro olhar" - Filosofia de Sonia Maria Ribeiro)

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