Tempo, tempo, tempo, tempo...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Segredos da vida

A dor e a lagarta


O marido conversava com a esposa, que era professora de Biologia, sobre qual seria a finalidade do sofrimento na vida  de tantos seres que povoam a imensidão do mundo, mergulhados em suas dores.

- Veja você, meu bem, quanto sofrimento que faz derramar tantas lágrimas de intenso padecer em determinadas pessoas que parecem carimbadas pela dor. Quantas crianças deficientes físicas e mentais! Quantos cegos de nascença que, por mais imaginem, nunca conseguirão saber da beleza de um arco-íris, de um campo florido, do voar dos  pássaros, do sorriso de um filho! Quantas pessoas lutam batalhas gigantescas e inglórias porque terminam por perdê-la para a morte? Qual a explicação de tudo isso, partindo, como acreditamos, da existência de um Deus de Bondade e sabedoria?! 

A esposa meditou um pouco e  com  um sorriso nos lábios e expressão de felicidade no rosto por ter encontrado um exemplo que satisfaria e convenceria o  marido, falou com  entusiasmo:

- Vou mostrar-lhe, o porquê do sofrimento e como a Providência Divina age! Após ver, você entenderá melhor, tenho a certeza! 

Tomou o  marido pelas mãos e o conduziu carinhosamente por um grande jardim localizado na própria residência, percorrendo-o como se estivesse a procurar algo muito importante. Após alguns minutos, bateu palmas como uma criança feliz, e disse em tom vitorioso:


- Venha cá, meu bem. Repare neste emaranhado de folhas e gravetos dependurado no galho desta árvore.

O marido aproximou-se sem entender nada sobre onde a esposa queria chegar para convencê-lo da razão do sofrimento, e contemplou aquela coisa estranha e até mesmo meio repugnante fixada em um galho a balançar ao sabor do vento. Tinha as cores de folhas secas dobradas sobre si mesmo e alguns gravetos embutidos naquele estranho embrulho.

- Mas o que é e o que tem isso a ver com a pergunta sobre a dor dos seres humanos e a bondade de Deus, meu bem?!

- Tudo! Olhe bem e guarde essa imagem sem vida e até mesmo sem razão ou objetivo aparente. Daqui a alguns dias voltaremos neste mesmo local e você entenderá como conciliar a dor, o sofrimento e a bondade de Deus!

- Mas olhando para esta coisa dependurada neste galho?

- Guarde bem esta imagem e você verá e entenderá com os seus próprios olhos.

Passaram-se alguns dias até que a esposa chamou alegremente o companheiro para retornarem juntos ao mesmo local em que seriam apresentados a ele, a dor, o sofrimento e a grandeza de Deus de mãos dadas!

- Está vendo?  O casulo está vazio!

- Sim, estou vendo, mas o que isso tem a ver com Deus e o questionamento do outro dia?

- Está vendo ao lado do casulo que borboleta maravilhosa e multicolorida secando as asas ao sol como se estivesse a espantar a preguiça?

- Estou, mas continuo não entendendo! - arrematou impaciente o marido.

- Pois é! Dentro do casulo feio e de mau aspecto, que lhe mostrei dias atrás, estava a lagarta sendo transformada nesta linda borboleta! Da mesma forma, o casulo da dor abriga o ser imperfeito para transformá-lo em alma capaz de ganhar as alturas sem limites, como a borboleta está apta a singrar os ares com as asas que secam sob o sol! Os problemas da vida preparam-nos as "asas" com as quais partiremos em direção a mundos melhores!

Do livro "Bom dia mesmo!" (Forni, Ricardo)



Um comentário:

VITORIO NANI disse...

Oi Lu!
Seu texto lembra Rubem Alves em Ostra Feliz não Faz Pérola!
Gostei.Abraços e bom final de semana!

vitornani.blogspot.com