Tempo, tempo, tempo, tempo...

sábado, 1 de maio de 2010

Muletas para a educação?!

Será que a escola realmente está vivendo o momento histórico da abertura e da mudança?
Será que os baixos salários, a maneira inadequada de estruturação dos estabelecimentos de ensino e o poder em mãos de incapacitados não estão atrofiando a qualidade da educação?

Na educação é assim: um mundo de "serás"... Um mundo de insatisfações, de autoritarismo...

Falando, não como educadora, mas como espectadora do ato de educar, fico surpresa com o forte comprometimento dos profissionais de educação: são incansáveis, sonhadores e fazem milagres com a miséria que recebem, atrelados ao não reconhecimento profissional por parte dos governantes.

Quero aqui externar a minha admiração por um ser muito especial: a minha diretora-adjunta, que serve de exemplo para o pensamento que ora expus. Quero digitar o seu nome em caixa alta: JANAÍNA... Quero que as vejam...

Sim! É essa loirinha PEQUENA-GRANDE-MULHER!

Ela é um exemplo de verdadeiro educador e líder: aquele que se envolve integralmente à formação cidadã... Ela é ao mesmo tempo, líder, amiga, mãe, conselheira, advogada, psicóloga, sensibilizadora, e... e... e...

Alguém que busca possuir sempre, as qualidades de liderança: é entusiasta, íntegra, firme, imparcial, zelosa, humilde e confiável... O tipo de profissional que sempre emprega as frases mágicas: "estou orgulhoso de você", "qual é a sua opinião?", "poderia, por favor?", "muito obrigada" e emprega o pronome mais importante: NÓS, para finalmente empregar o vocábulo menos importante: EU...

Uma profissional muito além dessa mísera remuneração de fome!

Como ela, são muitos espalhados por esse mundo de meu Deus!

São esses inúmeros educadores que exigem respeito por parte da administração pública!

Como profissionais tão comprometidos, devemos nos unir mais e dizer não à neutralidade, acusar e bradar essas injustiças!

Principalmente a injustiça marcada pela ação autoritária dos seus orientadores, que, partindo dos próprios organismos governamentais, nos impõe até as programações para cada série e nos enche de exageros e radicalismos...

É preciso brigarmos pela liberdade pedagógica: o absolutismo já deu entrada a uma escola democrática faz tempo e uma escola democrática é elemento formador da consciência do povo...

Enquanto não educarmos através da democracia, nosso povo jamais se voltará para a democracia: ela não surge sem democratas!

Aproveito para contar-lhe um episódio típico desse autoritarismo convergente:

Há muito tempo, a escola busca melhorar o comportamento de um aluno que tem dado trabalho à escola como um todo.

Acreditando nessa mudança, a escola decidiu transferi-lo para um outro turno e permitiu ao aluno que este frequentasse a escola no contra período, para que assim ocupasse melhor o tempo.

Eu, como bibliotecária, realizando trabalho de seleção de gêneros dos livros a serem colocados na estante, solicitei que o mesmo me auxiliasse, já que vi na atividade, uma forma de educar: ao tempo em que me auxiliava na seleção, ele estaria fazendo leitura dos títulos e autores das obras, estaria desenvolvendo a coordenação motora, a organização, a noção de classificação por ordem alfabética, ao tempo em que eu estaria conversando com o mesmo acerca de questões morais e de convivência. Em suma: o aluno estaria realizando uma atividade de leitura. Uma leitura extensiva que o levaria a ricos conhecimentos.

Infelizmente, a concepção de leitura inovadora ainda não está imbuída nas cabeças de profissionais que a resume em "ter um livro às mãos"...

Surpresa, fui informada que o aluno estava proibido de realizar quaisquer atividades de auxílio.

O informante pregou que a "ordem" estava vindo da Gerência. Calada, não quis argumentar meus conceitos educacionais... Muitas vezes, o silêncio nos fala mais que palavras!

É necessário conceber que na educação, o objetivo maior não se volta somente para a transmissão de conhecimentos, tampouco à aquisição passiva e artificial desses conhecimentos... Tais conhecimentos devem voltar-se para a formação de personalidades, de cidadãos e o crescimento pessoal deve ser valorizado.

Cada pessoa que entra em contato com uma criança, é um professor que lhe descreve o mundo, até o momento em que a criança é capaz de conceber o mundo tal como foi descrito.

Como pregou Durkheim: a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destina...

Outro pensador assevera: educar é facilitar o desabrochar de todas as qualidades que a pessoa trás consigo, é dar condições para que o eu pessoal desperte e se liberte de tudo aquilo que não lhe é próprio ou não convém para a sua libertação: o sentido que o homem procura não pode ser dado, imposto ou recebido. Deve ser conquistado através do pensar crítico-reflexivo. O objetivo da educação não pode ser outro senão a pessoa. Ajudar a pessoa a ser ela mesma junto ao mundo. A ser livre, consciente, comprometida, responsável, dinâmica e autêntica com o mundo, com a vida e consigo mesma. E ninguém melhor que Fernando Azevedo para definir a educação como sendo o processo pelo qual as gerações adultas transmitem às gerações jovens a sua cultura ou a sua tradição para garantir a continuidade do grupo como um todo...

O poder público deve entender e aceitar que a educação desejada pelos mandatários, não tem que ser necessariamente a do educador... Abaixo as manipulações! O professor quer reinventar sua prática pedagógica, não quer verdades prontas, incontestáveis: ele não quer saber de um Estado autoritário, porque ELE, o professor, pensa: logo, existe!

Acordem, governantes: a ordem de uma fábrica nunca será a ordem do setor educacional! Chega de manipulação!!!

Paulo Freire prega uma pedagogia alicerçada em rigorosidade, pesquisa, criticidade, risco, humildade, bom senso, tolerância, alegria, curiosidade, esperança, competência, generosidade, disponibildade e esta, nós praticamos!

Se continuarmos nesse arroxo de salário, de liberdade pedagógica, a profissão de professor irá sumir tal qual o tropeiro, o boticário, o caixeiro viajante, o tocador de realejo ( que, como diz Rubem Alves, talvez tenha sumido porque a poluição sonora não permita ouvi-lo ).

Chega de proibições, porque educador não é entidade!

Chega de medos, educadores! Espinoza tem razão quando diz que não há instrumento mais poderoso para manter o domínio sobre os homens, do que mantê-los no medo e para conservá-los no medo, nada melhor que conservá-los na ignorância!

Chega de calar-se! Não percamos a dignidade, que é o muito que nos restou!

Se a autonomia pedagógica morre, morre com ela o educador!

São palavras de Rubem Alves: Professor é profissão. Educador é vocação e toda vocação nasce de um grande amor. Vocações e profissões são como plantas: destruído o habitat, a vida vai murchando, entra para o fundo da terra até sumir.

Professor é funcionário de instituições e educador é fundador de mundos, pastor de projetos.

Somos pensadores, criadores e CRÍTICOS... Usemos os meios de comunicação para denunciar, bradar, nos fazer mais presentes em meio à sociedade, na qual só se ocupa um lugar ao sol, se trilhar os caminhos da educação, se passar pelas benditas mãos de um educador.

À propósito, quem teriam sido os professores dos nossos governantes?!

Acorda sociedade! Os professores já estão mudando de profissão, porque estão encontrando atividades mais lucrativas e restam os educadores, que por amor, ainda sobrevivem à fina força, nessa sociedade capitalista, nessa sociedade de consumo mas, como as plantas, vocações também morrem, murcham: DESAPARECEM!

Fecho meu desabafo, relembrando a cena de Gabriela, cravo e canela onde a filha de um coronel diz à sua mãe que gostaria de casar-se com um professor e a mãe pergunta:

- O que é um professor, na ordem das coisas? Que tem o ensino a ver com o poder? Como podem as palavras se comparar com as armas? Por acaso a linguagem já destruiu e já construiu mundos?

Acordem senhores mandatários! Remunerem dignamente os educadores brasileiros! Uma nação sem educação não evolui! Somos a água do mundo e, como ela, estamos cada vez mais desaparecendo das cadeiras públicas... Continuaremos educando sim, porque o educador será sempre educador, onde quer que esteja: somos educadores por vocação e comprometidos não somente com as salas de aulas, mas sobretudo com a sociedade, com a cidadania e com o patriotismo eloquente do seu povo brasileiro!!!

Se não educarmos nas salas de aula, educaremos nas feiras vendendo bananas e unindo o útil ao agradável: educando e remunerando-nos!!!

Um grande abraço aos educadores JANAÍNAS espalhados por esse mundão de meu Deus!

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