Tempo, tempo, tempo, tempo...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

IKEBANA - MAIS QUE ARTE!

Sempre admirei a forma intensa pela qual o povo japonês trata da sua arte: primando pela beleza extrema, pelo zelo, pela sutileza, eles nos encantam! Uma das coisas que mais gostava de apreciar nos mercados japoneses, eram os pratos prontos ( "obentôs" , que compõem uma refeição completa, normalmente colocados em bandejas ou caixas): lindos! Extremamente decorados com folhas e os alimentos harmoniosamente colocados na bandeja... A uniformidade dos cortes, tamanhos é realmente algo surpreendente! Só de visualizá-los, a gente sente vontade de levar para casa! Deixo abaixo duas imagens de obentôs ( do espaço "A VIDA ESCRITA À MÃO" ): E depois fujo desse assunto, porque vim aqui falar-lhes da IKEBANA; citei a culinária apenas para reforçar tudo o que digo! Falemos da IKEBANA... Usarei o feminino, porque a palavra designa a arte de "criar arranjos florais" que nasceu na Índia ( 607 a.C. ) através de uma cerimônia do chá atrelada ao costume budista de colocar flores no altar. A arte foi levada ao Japão, onde passou a ter um cunho místico e tomou conta da decoração e cultura nipônica. Ao longo dos anos, deixou de possuir característica meramente religiosa e passou a ser uma arte que envolve sensibilidade, espiritualidade, misticismo sutileza e expressão viva de significados infinitos. Vale salientar que os artistas cultuam um contato profundo com a natureza, através da utilização de flores e folhas, tesoura, suportes e materiais que variam de acordo com o estilo\escola. A questão espiritual é muito cultivada pelos artistas da arte e um lugar tranqüilo é um lugar ideal para a concentração e introspecção. Não é uma arte tão fácil de assimilar-se, principalmente se for leigo. Há muitas escolas por todo o Brasil e cada uma delas possuem regras próprias para a elaboração da arte. Documenta-se a descoberta da primeira ikebana na tumba de um príncipe na Dinastia Tang ( 706 ): ali se encontrou pinturas onde se podia visualizar um empregado carregando uma bandeja e dentro desta, uma árvore. Apesar de hoje ser uma arte que envolve todas as facções da sociedade, outrora limitava-se à classe nobre da elite. O refinamento da arte se deu a longo prazo, mas hoje, os japoneses desenvolvem os mais belos e melhores trabalhos em ikebana. O interesse ocidental se deu através de uma exibição ( Londres, 1909 ). Hoje, a arte é vendida em lojas de departamentos ( depaatos ), centros de jardim, berçários e muitos outros lugares. Muitos dos exemplares são cortados ainda verde e passam a não serem considerados verdadeiros( há mestres em Ikebana, sabia? ). O Rikka ( flores eretas ), organiza as extremidades de seus ramos e flores apontadas em direção ao céu ( simbolizando a fé ). O estilo costuma utilizar um pinheiro no meio do vaso, que serve para simbolizar a paisagem japonesa presente nas praias arenosas ou de montanha, principalmente nos cenários montanhosos de Kyoto. Depois do pinheiro, outras árvores são utilizadas para o arranjo Rikka, como: cedro, bambu e ciprestes. Não sei quase nada sobre ikebana: aprecio-as somente, mas também busco ler acerca do assunto, porque a arte me encanta... Vejam algumas características para a elaboração da arte: O crisântemo branco serve para simbolizar pequenos córregos/águas de rios. Os ramos de pinheiro servem para representar as rochas e as pedras. A depender da posição as plantas, podem representar luz, sombra, cor de estação e muito mais! O arranjo naturalista Nageire ( lançado para dentro ), remonta o século XVI e diverge dos demais, por possuir um estilo mais livre. No estilo clássico, os três grupos triangulares são fixados com firmeza no recipiente, impedindo que qualquer parte do arranjo o toque, enquanto que no Nageire, a liberdade de criação é privilegiada e as flores podem repousar na borda do receptáculo. O naturalismo e a habilidade do arranjador compor um arranjo que sugira o crescimento natural do material floral utilizado, é enfatizado pelo estilo Nageire, dispondo as flores de maneira natural, independente de quais sejam os materiais florais ( com isso, buscam não empregar a artificialidade. O Nageire busca salientar o crescimento e as características naturais das flores. O que deve predominar no estilo é a expressão da beleza natural de tudo aquilo que estiver em mãos. É a forma simples e natural do arranjo floral. O arranjo "Moribana", combina o estilo "Rikka e "Nageire", atrelado à valorização de um cenário natural, com finalidade cênica: a de transmitir a visão de um jardim, uma paisagem... Enquanto o arranjo oriental busca o ritmo, a cor, a harmonia e a construção linear, o arranjo ocidental enfatiza o uso mixado das cores, a quantidade, a beleza das corolas. O estilo "ikenobo", do século XVI, foi criado por uma família de Kyoto que, ao longo dos anos foi criando diversos formatos. Estilo ikenobo: Surgido no século XVI em Kyoto pelas mãos da família Ikenobo ( daí a origem do nome ). A arte é feita com arranjo simétrico e se volta à devoção aos antepassados/deuses. No século XVIII, surge o SHOKA que valoriza a versatilidade da flora ( formato de meia-lua ). Estilo Sogetsu: Um estilo considerado novo, Criado por Sofu Teshigahara ( 1907 ), jovem de 25 anos naquela época. Ele inovou a arte, passando a empregar também,outros materiais que não eram provenientes da natureza. Sofu teve a oportunidade de montar sua exposição individual ( Tóquio – 1933 ), com a inovação do uso de sucata em sua arte. A escola Sogetsu de ikebana, teve como seus alunos: a princesa Diana, Elizabeth II e a esposa de Mahatma Gandhi. Um grande nome da arte: Unshin Ohara, na era Meiji ( século XIX-XX ), considerando o estilo por ele estudado rígido e formal, aproveitou a abertura dos portos ao exterior, que trouxe novas flores do ocidente e começou a utilizá-las nos seus arranjos. Criou um arranjo num “suiban” ( utensílio semelhante a uma bacia rasa, também criado por ele ). Sua arte, conhecida como “Moribana”, foi um escândalo da época, já que galhos e flores pareciam estar empilhados ( algo incomum para a arte do período ). Abaixo, fotos ilustrativas de alguns estilos ( imagens da net ): SOGETSU:

NAGEIRE

MORIBANA IKENOBO
RIKKA
OLHAI, OLHAI, OLHAI... NÓS, O JAPÃO E IKEBANAS! ( Visita a uma exposição ): ( Entrada do evento: Sentados à mesa, estão um casal de amigos ( ela, brasileira e ele japonês - que pouco fala português... ) e, de costas, estão meus "niños" com um amiguinho. Estamos comendo "MOTI" um alimento feito de um arroz apropriado e que se consome quentinho ( cortesia dos organizadores do evento ). OLHEM AS FOTOS QUE TIREI DE ALGUNS ARRANJOS: LINDOOOOOOOOS!!!
Henrique, filho mais novo... Esta ikebana é lindaaaaa!!!
Ah, alguém me perguntou o porquê do chapeuzinho... Bem, ainda frio, é comum as crianças usarem, para aquecerem as orelhas ).

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