Sempre admirei a forma intensa pela qual o povo japonês trata da sua arte: primando pela beleza extrema, pelo zelo, pela sutileza, eles nos encantam!
Uma das coisas que mais gostava de apreciar nos mercados japoneses, eram os pratos prontos ( "obentôs" , que compõem uma refeição completa, normalmente colocados em bandejas ou caixas): lindos! Extremamente decorados com folhas e os alimentos harmoniosamente colocados na bandeja... A uniformidade dos cortes, tamanhos é realmente algo surpreendente!
Só de visualizá-los, a gente sente vontade de levar para casa!
Deixo abaixo duas imagens de obentôs ( do espaço "A VIDA ESCRITA À MÃO" ):
E depois fujo desse assunto, porque
vim aqui falar-lhes da IKEBANA; citei a culinária apenas para reforçar tudo o que digo!

Falemos da IKEBANA... Usarei o feminino, porque a palavra designa a arte de "criar arranjos florais" que nasceu na Índia ( 607 a.C. ) através de uma cerimônia do chá atrelada ao costume budista de colocar flores no altar.
A arte foi levada ao Japão, onde passou a ter um cunho místico e tomou conta da decoração e cultura nipônica.
Ao longo dos anos, deixou de possuir característica meramente religiosa e passou a ser uma arte que envolve sensibilidade, espiritualidade, misticismo sutileza e expressão viva de significados infinitos.
Vale salientar que os artistas cultuam um contato profundo com a natureza, através da utilização de flores e folhas, tesoura, suportes e materiais que variam de acordo com o estilo\escola.
A questão espiritual é muito cultivada pelos artistas da arte e um lugar tranqüilo é um lugar ideal para a concentração e introspecção.
Não é uma arte tão fácil de assimilar-se, principalmente se for leigo.
Há muitas escolas por todo o Brasil e cada uma delas possuem regras próprias para a elaboração da arte.
Documenta-se a descoberta da primeira ikebana na tumba de um príncipe na Dinastia Tang ( 706 ): ali se encontrou pinturas onde se podia visualizar um empregado carregando uma bandeja e dentro desta, uma árvore.
Apesar de hoje ser uma arte que envolve todas as facções da sociedade, outrora limitava-se à classe nobre da elite.
O refinamento da arte se deu a longo prazo, mas hoje, os japoneses desenvolvem os mais belos e melhores trabalhos em ikebana.
O interesse ocidental se deu através de uma exibição ( Londres, 1909 ).
Hoje, a arte é vendida em lojas de departamentos ( depaatos ), centros de jardim, berçários e muitos outros lugares.
Muitos dos exemplares são cortados ainda verde e passam a não serem considerados verdadeiros( há mestres em Ikebana, sabia? ).
O Rikka ( flores eretas ), organiza as extremidades de seus ramos e flores apontadas em direção ao céu ( simbolizando a fé ).
O estilo costuma utilizar um pinheiro no meio do vaso, que serve para simbolizar a paisagem japonesa presente nas praias arenosas ou de montanha, principalmente nos cenários montanhosos de Kyoto. Depois do pinheiro, outras árvores são utilizadas para o arranjo Rikka, como: cedro, bambu e ciprestes.
Não sei quase nada sobre ikebana: aprecio-as somente, mas também busco ler acerca do assunto, porque a arte me encanta...
Vejam algumas características para a elaboração da arte:
O crisântemo branco serve para simbolizar pequenos córregos/águas de rios.
Os ramos de pinheiro servem para representar as rochas e as pedras.
A depender da posição as plantas, podem representar luz, sombra, cor de estação e muito mais!
O arranjo naturalista Nageire ( lançado para dentro ), remonta o século XVI e diverge dos demais, por possuir um estilo mais livre.
No estilo clássico, os três grupos triangulares são fixados com firmeza no recipiente, impedindo que qualquer parte do arranjo o toque, enquanto que no Nageire, a liberdade de criação é privilegiada e as flores podem repousar na borda do receptáculo.
O naturalismo e a habilidade do arranjador compor um arranjo que sugira o crescimento natural do material floral utilizado, é enfatizado pelo estilo Nageire, dispondo as flores de maneira natural, independente de quais sejam os materiais florais ( com isso, buscam não empregar a artificialidade.
O Nageire busca salientar o crescimento e as características naturais das flores.
O que deve predominar no estilo é a expressão da beleza natural
de tudo aquilo que estiver em mãos. É a forma simples e natural do arranjo floral.
O arranjo "Moribana", combina o estilo "Rikka e "Nageire", atrelado à valorização
de um cenário natural, com finalidade cênica: a de transmitir a visão de um jardim, uma paisagem...
Enquanto o arranjo oriental busca o ritmo, a cor, a harmonia e a construção linear, o arranjo ocidental enfatiza o uso mixado das cores, a quantidade, a beleza das corolas.
O estilo "ikenobo", do século XVI, foi criado por uma família de Kyoto que, ao longo dos anos foi criando diversos formatos.
Estilo ikenobo:
Surgido no século XVI em Kyoto pelas mãos da família Ikenobo ( daí a origem do nome ).
A arte é feita com arranjo simétrico e se volta à devoção aos antepassados/deuses.
No século XVIII, surge o SHOKA que valoriza a versatilidade da flora ( formato de meia-lua ).
Estilo Sogetsu:
Um estilo considerado novo, Criado por Sofu Teshigahara ( 1907 ), jovem de 25 anos naquela época.
Ele inovou a arte, passando a empregar também,outros materiais que não eram provenientes da natureza.
Sofu teve a oportunidade de montar sua exposição individual ( Tóquio – 1933 ), com a inovação do uso de sucata em sua arte.
A escola Sogetsu de ikebana, teve como seus alunos: a princesa Diana, Elizabeth II e a esposa de Mahatma Gandhi.
Um grande nome da arte: Unshin Ohara, na era Meiji ( século XIX-XX ), considerando o estilo por ele estudado rígido e formal, aproveitou a abertura dos portos ao exterior, que trouxe novas flores do ocidente e começou a utilizá-las nos seus arranjos. Criou um arranjo num “suiban” ( utensílio semelhante a uma bacia rasa, também criado por ele ).
Sua arte, conhecida como “Moribana”, foi um escândalo da época, já que galhos e flores pareciam estar empilhados ( algo incomum para a arte do período ).
Abaixo, fotos ilustrativas de alguns estilos ( imagens da net ):
SOGETSU:
NAGEIRE
MORIBANA
IKENOBO
RIKKA
OLHAI, OLHAI, OLHAI... NÓS, O JAPÃO E IKEBANAS!
( Visita a uma exposição ):

( Entrada do evento: Sentados à mesa, estão um casal de amigos ( ela, brasileira e ele japonês - que pouco fala português... ) e, de costas, estão meus "niños" com um amiguinho. Estamos comendo "MOTI" um alimento feito de um arroz apropriado e que se consome quentinho ( cortesia dos organizadores do evento ).
OLHEM AS FOTOS QUE TIREI DE ALGUNS ARRANJOS: LINDOOOOOOOOS!!!
Henrique, filho mais novo... Esta ikebana é lindaaaaa!!!
Ah, alguém me perguntou o porquê do chapeuzinho... Bem, ainda frio, é comum as crianças usarem, para aquecerem as orelhas ).
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