Tempo, tempo, tempo, tempo...

domingo, 26 de junho de 2011

QUÃO BOM É AMAR O QUE É SIMPLES...


Alberto Caeiro
 
XX - O Tejo é mais Belo
 
 
    O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
    Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
    Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.    O Tejo tem grandes navios
    E navega nele ainda,
    Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
    A memória das naus.
    O Tejo desce de Espanha
    E o Tejo entra no mar em Portugal.  
    Toda a gente sabe isso.
    Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
    E para onde ele vai
    E donde ele vem.
    E por isso porque pertence a menos gente, 
    É mais livre e maior o rio da minha aldeia.  
    Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
    Para além do Tejo há a América
    E a fortuna daqueles que a encontram.  
    Ninguém nunca pensou no que há para além
    Do rio da minha aldeia.
    O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.  
    Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
 
ALBERTO CAIEIRO (1889-1915) FOI UM DOS HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA. ELE AINDA POSSUÍA OUTRAS ALMAS POÉTICAS: RICARDO REIS, ÁLVARO DE CAMPOS... Sempre admirei os textos de Alberto Caieiro, dada a sua simplicidade e o seu gosto pela natureza. O poema que retrata a beleza do rio de sua aldeia, comparada à do gigante "Tejo", reforça esse gosto pelo simples, onde a natureza é a sua verdade absoluta... Tom Jobim rebuscou a beleza do poema, transformando-o numa linda, doce, apaixonante canção!

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