AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa ( para mim, o poeta mais intenso )
Deixa eu falar um pouquinho do que penso acerca do poema:
O ilustre lusitano, descreve com maestria a arte poética: a poesia não reflete a dor verdadeira e sim a dor recriada, a dor adornada pela linguagem conotativa... Esta sim, será a dor que deveras sente.
Assim, o leitor sequer sente uma das dores: a dor real nem a dor imaginária. Também não sente a sua dor ( a dor do leitor ), mas passa a sentir uma outra dor: a dor que inspira o poema e que de forma diferenciada a cada leitor; a dor subjetiva, a dor que surge de acordo com a sensibilidade de cada um ( que coisa louca, Enkantinho! rsrsrs ). O poeta nos acorda para os toques da razão e do coração: o coração, tempo em que se surge a inspiração e a razão, tempo em que o artista trabalha o seu poema. Fernando Pessoa encanta com a descrição que faz do seu estado psicológico no momento da criação, sem deixar de dizer que a poesia é construída de forma áurea no tocante aos elementos mórficos. Mas eu vou ficando por aqui, porque senão, corro o risco de ser chamada de "MALUQUINHA", já que descrever Fernando Pessoa, é descrever o indescritível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário