- Painho, por favor dê-me uma luz. Deparei-me com um sujeito que não consigo compreender.
- Pois cite o nome dele, que eu a ajudarei – farei a busca.
- Frederich Niezstiche, costumo o chamar de Fred.
- Vixe! Creio que ajudá-la seria complicado por demais. Minha formação se fez nas cátedras brasilesas, sobretudo em Salvador, Bahia e no Rio de Janeiro. Afora, consegui o título de dicionário na África do Sul após doutoramento em Parapsicologia da Palavra. Se fosse um sujeito lusitano ou latino - talvez africanista - poderia até fazer minhas conjecturas, mas germânico... Não estou à altura para ajudá-la. Vou ter que encaminhá-la para um alemão: o Dr. Adolf Fritz. Entretanto, faça uma oração e passe-me o vocábulo do predicado, pois verei se posso ajudá-la.
- ...Amado da frase: “Frederich é amado por mim”. Mas não o adjetivo, o verbo partcípio.
- Não consigo ler nada. Seja mais precisa na conjugação. Passe-me sua característica no infinitivo.
- Digo sim Painho. Amar.
Pai Aurélio chacoalhou suas páginas e as arremessou contra a mesa num sexto como se fossem búzios. Ele com cara de interrogação, fez sua leitura espiritual.
- Sim. Vejo, leio claramente. Amar: verbo transitivo direto, ou seja, um nômade. Significa, gostar de... ternura por... Claro, você evidentemente está amando esse tal de Frederich. Porém, creio que isso já era evidente. Mas, você ainda não está sendo precisa.
- Me ajude Painho. Pois mesmo com a minha imprecisão você levantou um dado relevante: nômade, realmente Fred o é. Está bem, serei mais precisa em conjugação: amor.
- Hum, hum... ah! - Nistagmos oculares, mãos em garras nas costas, braços como xícaras de duas asas, ombros elevando-se mediante espasmos e corpo envergado; Painho, diante da busca pela palavra complexa em significação, assaz abstrata, incorporou o Pai de Todos os Santos.
- Ah! Quem me chama? - diz o Pai de Todos os Santos em voz ofegante, tensa e estrangulada. Saber sobre o tal... amor? Ai! Isso é complicado demais. Só de pensar nesta palavra me dá nervoso, mas se é o que queres, direi. Contudo, peço-te em troca algumas oferendas. Acordo fechado, falarei sobre o tal... Ahhhhh!!! - Um grito fez Pai Aurélio retornar ao seu corpo de fato.
- E aí minha querida, conseguiu as respostas que queria? - Com suas reservas de energia exauridas, Pai Aurélio dispensou a cliente, que dissimulada anuíra em reposta.
***
Pai Aurélio está com uma tremenda enxaqueca, por isso repousa sobre a estante ao lado de alguns amigos - a teóloga Bíblia, a historiadora Enciclopédia e a jornalista mexeriqueira Biografia. Sua cliente saiu do consultório com mais dúvidas do que chegara, porém saiu reflexiva.
***
- Como pode ter tal palavra tanto ardor ao mesmo tempo em que há paixão? E, por que Pai Aurélio não conseguiu ofertar-me com seu significado? Claro, já sei: o amor é uma palavra, que ainda que se consulte seu significado, este não será aprendido, senão pelos órgãos dos sentidos. Pois o vocábulo do sentimento deve ser apreendido de forma pragmática, através de nossas vivências. Adquirido através de contextos afetivo-comunicativos de maneira informal. Amor, então é assim que o desvendamos – ao menos em parte? Vivendo, o sentindo? E Fred: será que a sua essência de complicado que me atrai em paixão? Xi! Vou ter mesmo que me agendar com esse tal de Doutor Fritz!
( From: umgoledeideias.blogspot.com/ - Um blog pra lá de criativo! )
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